sábado, 17 de julho de 2010

Crítica: A Origem (Inception, 2010)

Por: Dimitri Yuri

Já está na hora de reconhecermos que Christopher Nolan é um dos melhores diretores atuais, pois já com sete filmes ele mantém um nível de qualidade admirável (mesmo "Insônia", que eu considero os mais fraco de seus filmes, ainda tem que ser classificado como "bom"). "A Origem" é talvez o projeto mais pessoal do diretor, ele pôs muito esforço e o resultado não é nada menos que o esperado, uma obra-prima. Algumas pessoas comparam esse filmes com "Matrix", mas na verdade, ele ultrapassa com folga o filme dos irmãos Watchowski, pois além de ter os visuais magníficos, "A Origem" é um filme realmente inteligente, e não igual ao "Matrix", que se acha muito mais complexo do que realmente é.

"A Origem" conta a história de Cobb (Leonardo DiCaprio). E como ele mesmo explica no filme, Cobb é especializado em tipo de segurança muito específico, segurança do subconsciente. Ele e seu antigo parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt) realizam alguns trabalhos relacionados à espionagem industrial. Nós descobrimos que Cobb está sendo acusado de ter matado a sua mulher (Marion Cotillard) e que algumas pessoas estão atrás dele (o que o impede de voltar para casa e ver seus filhos). O trabalho de Cobb e Arthur é basicamente criar um sonho, levar a vítima ao sonho deles, e aí ela enche o sonho com o subconsciente dela, possibilitando assim, o roubo de informações vitais da mente da pessoa.

É aí que Cobb recebe uma proposta de um importante empresário (Ken Watanabe), que diz poder limpar sua ficha desde que eles tenham êxito no serviço, que consiste em uma tarefa nunca antes feita. Ao invés de roubar uma ideia da mente de uma pessoa, ele terão que plantar uma. Para isso eles precisarão de uma equipe maior, e é aí que eles recrutam Eames (Tom Hardy) e Eriadne (Ellen Page). O detalhe é que a última não tem experiência nenhuma nesse ramo de espionagem, e é por isso que Cobb tem que treina-la (o que acaba nos "treinando" também). Para realizar esse trabalho eles vão precisar de um plane brilhante e excelentemente executado, mas os antigos tormentos de Cobb podem colocar a missão em risco.


Tratando-se de técnica narrativa, Christopher Nolan é um dos melhores diretores atuais (nos mostra isso desde "Amnésia"). Ele trabalhou nesse filme por 10 anos, e parece que aproveitou cada minuto desses anos trabalhando na sua própria narrativa para o filme. Ele esclarece a complexidade do filme quase com perfeição, e o mundo que cria para tornar a história possível é ainda mais impressionante, mas dessa vez por sua simplicidade. Pois já que o enredo é tão complexo, ele não poderia conceber um universo fantástico e implausível como o cenário da trama. Os ambientes criados por Nolan são maravilhosamente belos, a van caindo da ponte, a montanha de neve, a cidade retorcida... Tudo fotografado com muita criatividade e objetividade por Wally Pfister. A trilha por Hans Zimmer é hipnotizante, e ele mostra novamente que é um dos melhores - se não o melhor - compositor de trilhas atualmente.

Parece que Nolan é o melhor quando o assunto é misturar elementos que os adolescentes gostam, e o que os cinéfilos gostam, assim agradando à todos. Simplificando, Christopher Nolan é a mais perfeita máquinha de dinheiro em Hollywood atualmente, e ele merece esse cargo. O que é ainda mais impressionante é que mesmo assim ele se arrisca, desde "O Cavaleiro das Trevas", em que ele coloca elementos de "Casablanca" em um filme de super-herói, até nesse aqui, que por trás de todas as explosões e cidades distorcidas, ele consegue colocar um conflito moral realmente inteligente, com ênfase no "realmente" (digo isso porque é comum as pessoas dizerem que um filme é cabeça, mas na verdade ele é só metido à esperto). A sua escolha de não converter o filme para o 3D (algo que é quase obrigatório atualmente, quando falamos de blockbusters da Warner Bros) é muito admirável, e mostra o comprometimento de Nolan com o projeto, pois ele não abre mão da qualidade visual de seu filme, só por causa de uma modinha.

Como o roteiro também é escrito por Nolan, a direção e o enredo se completam, afinal, ele teve dez anos pra planejar tudo. Esse é um roteiro em que tem muita coisa acontecendo, e muitos plot twists, mas chega um momento que você compreende tudo e é nesse minuto que você começa à admirar o filme. O clímax do terceiro ato é um dos mais poderosos que eu ja vi. Sei disso pois saí do cinema literalmente com falta de ar. Com a sensação que você tem quando acaba de ver uma obra-prima (assim como em "O Cavaleiro das Trevas"). Diferente de "Matrix", em que eles tinha aquela palhaçada de uma perfeita réplica da realidade, em "A Origem" eles reconhecem que aquilo era uma grande mentira (os objetos que cada integrante da equipe tem para testar a realidade é a prova disso).

Leonardo DiCaprio faz a mesma coisa de sempre (se parece principalmente com seu personagem Teddy Daniels de "A Ilha do Medo"), ele está só normal, mas não se destaca muito (vale mais à pena vê-lo no filme de Scorsese). Elle Page me surpreendeu bastante nesse aqui, as reações dela soam plausíveis e ela passa uma confiança admirável (muito difícil, considerando que ela parece uma adolescente). Joseph Gordon-Levitt mostra novamente que tem muito talento e potencial, ele acerta nos alívios cômicos e é muito carismático. Michael Caine também não se esforça muito para fazer o seu personagem, que é mais uma reciclagem do Alfred dos Batmans de Nolan. Ele só não é tão proximo de Cobb, como era de Bruce Wayne. Mas de todo elenco, quem mais deixa sua marca é Tom Hardy (que já esteve no fraco "RocknRolla"), pois tem a mistura perfeita de dureza e inteligência, é sem duvida o mais engraçado dos atores e rouba a cena sempre que aparece.

Veredicto: Junto com "A Ilha do Medo" esse filme é o melhor do ano até agora, e dificilmente será superado. E eu estou contando os dias para o próximo trabalho desse diretor que provavelmente entrara para a lista dos melhores da história daqui a um tempo (DiCaprio pode não levar muita coisa para os filmes, mas ele certamente sabe escolher em quais estrelar).

Nota: 5/5